Cr 014 - Corrupção democrática

Ante a expressiva exposição da palavra “mensalão” na mídia, procurei entender as causas da atual crise política, contexto do qual surgiu o tal neologismo mensalão. Deparei-me de início com uma questão essencial desta problemática, nascida da legislação brasileira, a qual garante o Direito ao Voto aos maiores de dezesseis anos e, com mais alguns requisitos legais, tal como escrever o próprio nome, ser brasileiro nato ou naturalizado, basta dirigir-se ao Cartório Eleitoral mais próximo para registrar-se com Eleitor; além disso, é de caráter obrigatório. 

Tal direito, então, decorre do texto legal como imposição e nos surge naturalmente, tal como o ar que respiramos. Quanto ao ar, se alguns dos aspectos que nos permitem utilizá-lo, tendo como exemplo a sua qualidade, forem totalmente desprezados, com o tempo a poluição do ar pode nos matar. A expressão da nossa opinião pelo voto, exercida de forma irresponsável, também pode nos matar, direcionando para as mãos de corruptos os recursos públicos necessários para a Educação, Saúde e Segurança, áreas vitais para o bem estar das pessoas.

Moro numa comunidade pequena e foi fácil notar algumas práticas sociais nas últimas eleições. Pude acompanhar eleitores exercendo o seu “Direito ao voto” para um ou outro candidato conforme tenha recebido ou não favores em determinado aspecto. É uma das origens da corrupção que há tempos assola nosso país e que a mídia tem exposto diariamente. É oportuno lembrar que a sujeira já havia! Porém, só recentemente surgiram ex-mulheres e ex-secretárias dispostas a levantar os tapetes (ou mostrar cofres e falar de malas), deixando-os expostos para fotografias dos paparazzi da podridão.

Numa empresa, onde um funcionário reclame de alguma injustiça, ele estará sujeito a receber ofertas (cargo, salário, benefícios) tentadoras para “mudar de idéia”; A venda da opinião lhes atende os interesses próprios, mesmo que não seja socialmente aceitável. Muitas pessoas dizem também querer um Mensalão, em variantes do neologismo, tal como mensalinhos, etc. Elas, aparentemente, também estão dispostas a vender a sua opinião ou o exercício do seu voto. Ambos os termos, opinião e voto, já foram considerados sinônimos também na prática social – agora, o são apenas nos dicionários. Voto também possui significado de vontade. 

Na Câmara dos Deputados, desde que comprovadas as denúncias, estará demonstrado o parâmetro pelo qual o voto é exercido pelos Deputados envolvidos ou, ainda, o quanto são contraditórios suas vontades, opiniões e votos. O aspecto sofrível de todo o processo é que a Legislação que poderia puní-los é editada, em boa parte, por eles próprios e pessoas com pouca (ou nenhuma) vontade própria são igualmente condescendentes; seriam, entrementes, manifestações da mesma vileza de caráter!

Não vejo a corrupção como um fenômeno existente apenas nas “altas esferas do poder”; ocorre em todos os segmentos ou expressões da sociedade e começa na sua menor porção, a família. Será que em nossas atribuições diárias não estamos comprando a opinião de ninguém? Quando um pai dá um filho dinheiro para agradá-lo não estará corrompendo-o? Se não houve qualquer esforço ou mérito para adquirí-lo, o “Direito” a tal ganho não houve! Da mesma maneira, poderíamos nos esquecer da obrigatoriedade do voto e depois disso, procurar conquistar o Direito ao Voto, com informações suficientes sobre os candidatos e partidos. 

Se não dedicarmos para conquistarmos o Direito ao Voto, corromperemos os próprios princípios da Democracia: em seu surgimento o Voto era exclusivo dos Cidadãos; eram considerados como Cidadãos apenas os qualificados para tal. Atualmente, para exercermos adequadamente o Direito ao Voto é necessário nos qualificarmos, através das informações, conquistando desta forma a Cidadania. Dessa maneira teríamos o Direito ao Voto como uma conquista verdadeira e isenta.

Ouvi um eleitor afirmar, em alto e bom som “votei nele porquê foi o único que me pagou um copo de pinga!”(sic). As “luvas” pelas quais o pobre coitado trocou de partido só valeram um copo de pinga; outras, mais sofisticadas e lá no Planalto, chegam a milhões de reais... É a Corrupção impregnada na vida de todas pessoas, tornando-a verdadeiramente Democrática.